terça-feira, 14 de novembro de 2017

O vinho apareceu há 8.000 anos no Cáucaso

Por Jean-Louis SANTINI
Um jarro neolítico encontrado na Geórgia, em uma foto fornecida pelo Museu Nacional da Geórgia em 13 de novembro de 2017
As origens da viticultura remontam a mais de 8.000 anos, quase dez séculos antes do que tinha sido estimado até agora, revelaram resíduos encontrados em cerâmicas neolíticas encontradas na Geórgia, no sul do Cáucaso.
Os indícios químicos mais antigos da produção de vinho datavam, até agora, de 5.400 a 5.000 anos antes da era cristã (cerca de 7.000 anos atrás) nas montanhas de Zagros, no Irã, disseram os cientistas, cuja descoberta foi publicada nesta segunda-feira (13) na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
As escavações se concentraram nos sítios arqueológicos ricos em cerâmicas do início do Neolítico, que datam de entre 8.100 e 6.600 anos atrás, Gadachrili Gora e Shulaveris Gora, situados a cerca de 50 km de Tbilisi.
A análise dos resíduos encontrados em oito jarros com milênios de antiguidade revelou a presença de ácido tartárico, a assinatura química das uvas e do vinho. Também foram detectados outros três ácidos - málico, succínico e cítrico - relacionados com a viticultura.
"Isto sugere que a Geórgia provavelmente era o centro da domesticação das videiras e da viticultura", resume à AFP Patrice This, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola (INRA) da França.
"Acreditamos que estamos na presença dos vestígios da mais antiga domesticação de videiras silvestres na Eurásia com o único propósito de produzir vinho", afirmou Stephen Batiuk, do Centro de Arqueologia da Universidade de Toronto.
"A versão domesticada de uvas para a produção de vinho de mesa atualmente tem mais de 10.000 variedades no mundo todo", 500 delas só na Geórgia, acrescentou.
Segundo os cientistas, isto sugere que as uvas foram objeto de cruzamentos para criar diferentes cepas há muito tempo nessa região da Eurásia.
A combinação de dados arqueológicos, químicos, botânicos, climáticos e de datação mostra que a variedade de videira Vitis vinifera era abundante nos dois sítios de escavação na Geórgia.
A maioria das uvas clássicas pertence a esta espécie, como cabernet sauvignon, chardonnay, syrah, merlot, garnacha, mourvèdre e riesling.
"Nosso estudo sugere que a viticultura foi o principal elemento do modo de vida neolítico, que viu nascer a agricultura, que se estendeu no Cáucaso" e além, para o sul, no Iraque, Síria e Turquia, indicou Batiuk.
Os pesquisadores explicaram que, nessas sociedades antigas, beber e oferecer vinho fazia parte de quase todos os aspectos da vida.
"O vinho como um remédio, um lubricante social, uma substância que altera o espírito e inclusive como uma mercadoria de grande valor, se tornou um componente essencial dos cultos religiosos, da farmacopeia, da cozinha, da economia e da vida social em todo o Oriente Médio", afirmou Batiuk.

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